O bullying ainda é uma preocupação constante nas escolas, uma vez que pode causar sofrimento intenso e traumas diversos a quem é vítima. Nesse sentido, a capelania, com seu olhar atento, pode identificar e ajudar quem estiver passando por isso.
A palavra bullying tem origem inglesa e se originou a partir da junção da palavra “bully” (que significa “valentão”, em tradução livre) com o prefixo “ing” que, na língua inglesa, sugere uma ação contínua. Logo, o bullying se configura em um conjunto de violências, que podem ser físicas, verbais e/ou psicológicas que ocorrem de forma contínua e sistemática.
O bullying pode ter consequências gravíssimas para quem é vítima das agressões, como depressão, distúrbios comportamentais e até suicídio. Por esse motivo, é ímpar que a capelania esteja atenta para identificar e ajudar as vítimas.
Como identificar o Bullying
Segundo o Pastor Kléber Antônio Jacinto dos Santos, capelão do Colégio Cristão VER, localizado em Belo Horizonte (MG), uma série de agressões e/ou mudanças de comportamento podem indicar que um aluno está sendo vítima.
“Alguns dos sinais incluem: machucados sem explicação convincente; roupas sujas ou rasgadas; materiais escolares estragados ou perda frequente de objetos; isolamento; medo de sair sozinho e de ir à escola; queda no rendimento escolar; ausência de socialização e de amizades; tristeza, solidão, insônia e estresse; perda do apetite; baixa imunidade; agressividade, pensamentos suicidas, entre outros”, citou.
Segundo o Pastor Kléber, o bully (autor das violências) tem esse tipo de comportamento para ser mais popular, estar em evidência e obter uma boa imagem.
“O agravante é o fato do agressor não se colocar no lugar do outro antes de cometer tal ato, ou seja, o sofrimento de outra pessoa não é motivo para que ele deixe de realizar esta agressão. A impunidade também pode contribuir para que continue acontecendo”, indicou.
O pastor explicou que tem como identificar se um aluno está agredindo por meio de mudanças no comportamento.
“O agressor modifica a linguagem, se torna mais agressivo, impõe pensamentos, condutas, desmerece colegas e manipula situações. Geralmente, anda cercado de seguidores que o apoiam e se submetem a eles. O convívio familiar também pode servir de sinal – muitas brigas e contendas na vida familiar pode indicar que algo vai mal”, atentou.
Sala de aula
O pastor Kléber é enfático ao destacar a importância de um enfretamento em sala de aula, caso alguma violência seja percebida.
“[O(a) professor(a) é orientado(a) a] interromper o ato antes que contamine outros estudantes da sala, preservando a integridade tanto da vítima quanto do agressor e encaminhar os envolvidos ao setor responsável (capelania)”, contou.
Capelania
Uma vez que cheguem à capelania, vítima(s) e agressor(es) recebem tratamentos diferentes.
Para o capelão, é importante acolher a vítima e criar um ambiente seguro que proteja as emoções desse aluno – além de mostrar ao aluno as suas potencialidades e seu valor como ser humano para Deus e para todas as outras pessoas.
“O primeiro passo é acolher a vítima sem expô-la a outros colegas e principalmente ao agressor, pois ela se sente acuada e teme uma possível retaliação. Além disso, outro ponto importante é estar presente nos momentos mais prováveis em que esta violência venha a se repetir para um possível flagrante e, a partir daí, uma efetiva intervenção”, indicou.
No tocante ao tratamento do agressor, Kléber destaca a necessidade de deixar claro que o bullying é crime e que nenhum tipo de agressão será tolerado pela escola.
“A família deve ser comunicada e o agressor devidamente acompanhado pela capelania com aconselhamentos para que o ato não se repita e que ocorra uma reconciliação entre vítima e agressor. O que precisa ficar claro é que, assim como Deus nos perdoa, também podemos perdoar uns aos outros e este é o nosso maior objetivo: mostrar que com a ajuda do Espírito Santo é possível a reconstrução de um relacionamento saudável”, afirmou.
Como previnir
Kléber salientou que a escola deve compreender qual é o seu lugar no combate e prevenção ao bullying, assim como as famílias envolvidas.
“A escola deve promover campanhas de conscientização, palestras e debates a respeito do bullying com o intuito de impulsionar uma mudança cultural; atuar junto com os pais e a comunidade escolar; estimular lideranças positivas e a empatia entre os alunos, por meio do trabalho em equipe. Também é importante observar e escutar os alunos”, frisou.
Kléber destacou que a família também pode contribuir para erradicar essa prática nas escolas.
“Escola e família devem conversar sobre o comportamento do filho na escola, buscando, se preciso, soluções conjuntas. Pais e cuidadores têm participação direta na contenção do bullying. Se os familiares não estabelecem diálogos, impõem limites e restringem o acesso a várias formas de violência, a criança não terá consciência de suas atitudes agressivas”, explicou.
A escola também é um espaço importante na promoção de trocas afetivas saudáveis.
“A escola deve promover espaços de diálogo que favoreçam os laços afetivos e melhorem a qualidade das relações. E isso inclui prestar atenção ao que sentem e expressam os próprios estudantes. Outro grave erro é que muitos educadores encaram a questão como algo menor, passageiro ou simplesmente como parte da fase escolar. Não dá para menosprezar as ofensas e suas consequências. O bullying gera traumas, alguns deles difíceis de superar”, finalizou.
RELATO
“Trabalho no ambiente escolar há quatorze anos, sendo oito deles no Colégio Cristão VER. Já passei por muitos casos, porém o que mais me marcou foi o caso de um estudante que acompanhei por alguns anos por indisciplina, incluindo o bullying. Ele me escreveu uma carta de agradecimento e reconhecimento três anos após ter se formado e saído do colégio, carta que ainda guardo com muita alegria. Esta carta reforçou em mim que todo investimento que fazemos em pessoas vale a pena, mesmo que os resultados demorem a aparecer”, relatou.
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